Bíblia Sagrada: O Espelho da Alma

O Espelho da Alma

Muito se tem falado, estudado e vasculhado no maior de todos os livros: a Bíblia Sagrada. Fonte de sabedoria, o livro de Deus parece ser, por vezes, fonte de controvérsias, visto que muitos a usam para debater e contender, prática que ela mesma aconselha a evitar, pois ferem seu objetivo principal: a transformação e a edificação pessoal, familiar e social. E, assim, o texto sagrado tem sido o centro das atenções por mais de vinte séculos. e assim continuará até que se cumpram todas as profecias. Mas se temos uma lição a aprender sobre ela, se tem algo de concreto que podemos afirmar sobre a Bíblia é: que ela deve ser considerada, por todos nós - os que cremos -, como o espelho de nós mesmos. É ela quem mostra aquilo que ainda somos e aponta para aquilo que devemos ser: a imagem e semelhança de Deus. E, como espelho da alma (leia nota no rodapé), pode refletir nossa própria consciência, nossa razão, nossos sentimentos e nossas emoções, moldando-nos e aperfeiçoando-nos.


O Uso Errado da Bíblia Sagrada
Uma boa parte dos leitores da Bíblia utiliza-a de forma errada, apontando e condenando os erros alheios em debates e contendas infindas. Nos meus tempos de criança havia um dito popular que expressa isso com clareza: quando alguém apontava a culpa em outro, geralmente se ouvia alguém dizer: Você não tem espelho em casa? Essa prática de achar que o erro sempre está nos outros e nunca em nós é, muitas das vezes, inconsciente. Mas nem por isso deixa de ser um comportamento reprovado por  Deus, que espera de nóscrescimento espiritual, e não falsidades e fingimentos. Da mesma forma também é comum  se encontrar entre muitos dos cristãos uma certa dificuldade em se perceber que o pronome pessoal  “nós” está subentendido no contexto de qualquer versículo ou passagem bíblica, quando se lê ou quando se ouve as  palavras das escrituras. Quando a Palavra de Deus fala conosco, nossa tendência é adotar a tradicional  postura  de isenção de culpa, como fez Adão:E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses?  Então disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi.
Notou a postura de Adão frente à sua responsabilidade, apontada por Deus? Logo se esquivou da culpa, lançando-a inteiramente sobre Eva: a mulher que me deste me enganou e eu comi.  Esse é um comportamento mesquinho, traiçoeiro e anticristão, que revela insensatez e falta de entendimento bíblico. Costumeiramente “enxergamos”  somente quando outras pessoas fazem o que aborrece a Deus. Isso faz com que, lenta e inconscientemente, cada cristão desenvolva uma postura que o leva a se considerar juiz de todos e nunca juiz de si mesmo.  Enxerga bem o pecado e o erro nos outros, mas permanece cego em relação a si mesmo.

Juiz dos outros ou juiz de si mesmo?
O ensino bíblico aponta para nosso dever de usar a Bíblia como referência para o  aprendizado pessoal. Através dela podemos praticar a reflexão e aprender a aplicar seus ensinamentos no dia a dia de nossas próprias vidas. Deixar de lado a tendência de julgar os outros e praticar a reflexão sincera é a instrução da Bíblia. Devemos sempre questionar: esse versículo se aplica a mim? Esse tipo de reflexão pode nos levar a nos conhecer mais profundamente. O examinar-se a si mesmo é um dever e, ao mesmo tempo, uma doutrina cristã, principalmente quando participamos da Santa Ceia: Examine-se o homem a si mesmo, e então coma do pão e beba do cálice. Pois quem come e bebe sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe para sua própria condenação. 1 Coríntios 11:29  Deus quer exatamente isso: que cada um se examine e se descubra a si próprio, de uma forma inovadora, espetacular e, até mesmo chocante. Podemos até descobrir coisas terríveis que se passam dentro de nossos próprios corações: maus pensamentos, ódios, intrigas, invejas, cobiças, desejos inconfessáveis... Se a meditação não for sincera, estaremos lançando a Palavra de Deus ao desprezo, ainda que inconscientemente: pois aborreces a correção e lanças as minhas palavras para detrás de ti (Sl 50:17) Essa prática é perigosa, podendo nos conduzir para fora da presença de Deus: O homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz será quebrantado de repente sem que haja cura. Pv 29:1

Dever cristão
Quando Jesus Cristo nos deu o Evangelho, o que antes era um privilégio divino somente tornou-se, agora, um dever de todo cristão. O privilégio divino a que referenciamos, é o dom que Deus tem de nos conhecer até o mais profundo de nossos pensamentos. Agora temos o direito (e também o dever) de nos conhecer melhor, como Deus nos conhece. Só assim teremos uma referência para, a partir daí, acompanhar nossa própria transformação: Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor. – 2 Co 3:18

O Espelho da Palavra de Deus
Agora, quando nos convertemos a Jesus, temos o dever de conhecermos a nós mesmos, através do Espelho da Palavra de Deus. Devemos, diante dela, ser sinceros e isentos de parcialidade, julgamento, primeiramente, a nós mesmos e, em contrapartida, jamais, julgar aos semelhantes[Excetua-se, logicamente, a hipótese de 1 Coríntios 6:5].

Deus quer reflexão interior
Com isso, Deus quer a reflexão interior e não a exterior. A reflexão nos leva à consciência do pecado, ao arrependimento e à transformação. E: a Bíblia é para salvação pessoal, ou seja, daquele que nela crê e que através dela está buscando se achegar mais ao Criador. Para acertar isso devemos passar a ler a Bíblia Sagrada “em  Espírito”, sempre tentando ouvir o que Deus está falando conosco através de sua Palavra. A Bíblia é o maior instrumento de transformação pessoal e interior dado aos homens, capaz de transformar e modelar, para que sejamos a imagem de nosso Pai celestial, cheio de virtudes. Se todos os cristãos entendessem isso, a maior parte dos problemas dentro das igrejas jamais teria existido. A Bíblia sempre aponta para aquele que a lê. Deus quer a mudança pessoal e interior do leitor. Sem isso jamais Ele nos poderá usar como ferramenta transformadora para os demais ao nosso redor. Seremos sempre lembrados como semelhança do pecado e corremos o risco de ouvir Cristo nos dizer: Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira. – Jo 8:44
Seremos semelhantes aos fariseus judaicos, comparados por Jesus e Paulo a sepulcros caiados, porque ensinavam os discípulos, mas não se ensinavam a si mesmos. Como sepulcros, exteriormente mostravam boa aparência, mas interiormente só havia morte e corrupção. Estavam espiritualmente mortos e apodrecidos na condição do velho homem. Mesmo lendo diariamente a Lei e os Profetas, os fariseus continuavam espiritualmente mortos! Que tristeza isso: ler diariamente a Bíblia Sagrada e continuar morto e em estado de podridão diante de Deus!!!

A Bíblia Sagrada como Manual do Fabricante
Certa vez presenteei um vizinho com uma Bíblia Sagrada e, ao entregá-la, tomei o cuidado de explicar-lhe como usá-la. Comparando-a, inclusive, ao manual fornecido pelos fabricantes de veículos, eletrodomésticos, etc. Ele agradeceu muito e, passados alguns anos me procurou para testemunhar que aquele havia sido o melhor presente  de sua vida, e que, como havia lhe falado, a Bíblia Sagrada realmente é uma fonte de águas vivas que, verdadeiramente, matam nossa sede. É a própria “Voz de Deus”!!! A Palavra de Deus é Viva, disse ele, radiante. Sim, e muito mais ainda: ...a palavra de Deus é viva, eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração. Hebreus 4:12

Usando a Bíblia corretamente
Então ele contou que certo dia estava numa tristeza profunda e, seguindo o conselho da Bíblia entrou no seu quarto, fechou a porta,  dobrou seus joelhos diante do Senhor e orou, apresentando-se e pedindo orientação, esperando de Deus uma resposta. Feita a oração, pegou a Bíblia, abriu-a e, ao ler a passagem, caiu em lágrimas: a Palavra falava diretamente ao seu coração, como se Deus estivesse ali presente, falando com ele face a face.  Mas porque isso aconteceu? Por que ele usou a Bíblia da maneira correta e para a qual ela nos foi dada: para examinarmo-nos a nós mesmos. E, quando não o conseguimos, mas pedimos auxílio a Deus, Ele pode nos revelar até mesmo o motivo de nossas tristezas e angústias. Geralmente a fonte de nossos problemas somos nós mesmos, não os outros ao nosso redor. Quando aprendemos isso, podemos então usar os conselhos bíblicos a nosso favor, permitindo que o Evangelho nos molde como o vaso nas mãos do oleiro.

O velho homem
Quando tomamos ciência de que, pela fé em Jesus Cristo, morreu nosso velho homem, escravo do pecado, e que agora não vive mais o “eu”, mas Cristo é quem vive em nós, temos o dever de começar a usar a Bíblia Sagrada para nossa própria instrução, aconselhamento e edificação espiritual. Caso contrário, continuaremos sendo imagem do velho Adão, escravo do engano e do pecado. A obra transformadora deve começar pela “Casa de Deus”, que somos nós (1 Pe 2:5), porque também o juízo começa por nós – 1 Pe 4:17.

Conclusão
Diante de tudo isso, só nos resta fazer da Bíblia livro de cabeceira, nosso espelho onde, a cada manhã, possamos contemplar nossa face como Deus também nos vê, usando esse recurso em nosso favor, para melhorar nos atos, nossos pensamentos, nossas palavras, para tornar-mo-nos um pouco mais “semelhança” do nosso Maravilhoso Deus e Eterno Pai: Jesus Cristo. Porque fazendo isso,  vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo2 Pedro 1:11 O apóstolo Paulo doutrinava a igreja primitiva e considerar a Bíblia Sagrada como uma ferramenta indispensável à orientação e modelação cristã, pois nos céus não entrarão aqueles que ainda trouxerem a imagem do velho Adão, mas somente os transformados, feitos à imagem e semelhança do Salvador: Jesus Cristo.
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